"Onde 'isso' estava, Eu devo advir" - Sigmund Freud

2 de outubro de 2012

SOBRE O AB-USO DA MEDICAÇÃO CONTROLADA - ANSIOLÍTICOS


Na grande maioria dos casos de neurose, para fugir a um acometimento de acessos de angústia, há uma tendência ao refúgio do sujeito atrás de inibições e medicamentos – os populares “tarja preta”. Mas aí já não poderíamos falar de sujeitos plenos, desejantes.

Atualmente a procura e uso abusivo de fármacos aumenta cada vez mais, movimentando a economia de uma indústria farmacêutica bilionária. Psicanalistas não são contra o uso de medicamentos e sim do abuso destes. O medicamento deveria ser apenas um instrumento para auxiliar o sujeito no enfrentamento de suas questões, e não no encobrimento destas. A política de abuso medicamentoso sem análise bem poderia ser descrita como “jogar a sujeira para debaixo do tapete”, ou “tapar o sol com a peneira”, e ainda “política do avestruz”. 

Sabemos que nosso contexto sócio-econômico contribui em parte – somado às resistências internas – no estabelecimento desse quadro, pois exige uma maior produtividade dos sujeitos, fazendo com que estes busquem saídas rápidas para seus problemas. Para estes seria mais sedutora e confiável a medicação controlada do que a análise pessoal, longa e custosa. Na verdade, em muitos casos não há sequer conhecimento da existência de análise pessoal. 

Os sujeitos que fazem uso abusivo de psicotrópicos invariavelmente se tornam alienados, não-implicados nos sintomas que produzem. Tornam-se verdadeiros “homens-robô”, destituídos de capacidades criativas: ouvi de uma pessoa certa vez que, após o início do tratamento medicamentoso, simplesmente parou de sonhar à noite. Tais sujeitos seriam então guiados por um Outro, não pelo próprio desejo. A análise seria a única forma possível de se criar uma barreira contra a satisfação neurótica masoquista, sem um decréscimo das faculdades cognitivas e criativas, por meio de uma aquisição  - ou melhor, re-aquisição – de um saber sobre si mesmo. Mas não se consegue isto sem muito esforço – exige tempo e labor.

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