Na grande
maioria dos casos de neurose, para fugir
a um acometimento de acessos de angústia, há uma tendência ao refúgio do
sujeito atrás de inibições e medicamentos – os populares “tarja preta”. Mas aí
já não poderíamos falar de sujeitos plenos, desejantes.
Atualmente a
procura e uso abusivo de fármacos aumenta cada vez mais, movimentando a
economia de uma indústria farmacêutica bilionária. Psicanalistas não são contra
o uso de medicamentos e sim do abuso destes. O medicamento deveria ser apenas um
instrumento para auxiliar o sujeito no enfrentamento de suas questões, e não no
encobrimento destas. A política de abuso medicamentoso sem análise bem poderia
ser descrita como “jogar a sujeira para debaixo do tapete”, ou “tapar o sol com
a peneira”, e ainda “política do avestruz”.
Sabemos que
nosso contexto sócio-econômico contribui em parte – somado às resistências
internas – no estabelecimento desse quadro, pois exige uma maior produtividade
dos sujeitos, fazendo com que estes busquem saídas rápidas para seus problemas.
Para estes seria mais sedutora e confiável a medicação controlada do que a
análise pessoal, longa e custosa. Na verdade, em muitos casos não há sequer
conhecimento da existência de análise pessoal.
Os sujeitos
que fazem uso abusivo de psicotrópicos
invariavelmente se tornam alienados, não-implicados nos sintomas que produzem. Tornam-se
verdadeiros “homens-robô”, destituídos de capacidades criativas: ouvi de uma
pessoa certa vez que, após o início do tratamento medicamentoso, simplesmente
parou de sonhar à noite. Tais sujeitos seriam então guiados por um Outro, não
pelo próprio desejo. A análise seria a única forma possível de se criar uma
barreira contra a satisfação neurótica masoquista, sem um decréscimo das
faculdades cognitivas e criativas, por meio de uma aquisição - ou melhor, re-aquisição – de um saber sobre
si mesmo. Mas não se consegue isto sem muito esforço – exige tempo e labor.
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