"Onde 'isso' estava, Eu devo advir" - Sigmund Freud

1 de outubro de 2012

A SÍNDROME DO PÂNICO: AKA “NEUROSE DE ANGÚSTIA” – PARTE I: DESCRIÇÃO

       A "síndrome do pânico" é uma patologia que cada vez mais leva à procura de atendimento clínico. Apesar de sempre haver existido – embora não com essa nomenclatura – há um crescente número de pessoas apresentando sinais do quadro, o que nos leva a caracterizá-la como uma das "patologias do contemporâneo". Vamos dar uma olhada no que a psiquiatria tem a dizer sobre o quadro (ela que sempre foi boa em descrições):
 
       "Transtorno de Ansiedade (Paroxística Episódica) = Síndrome do Pânico: É um transtorno de ansiedade intensa que se manifesta por episódios chamados crises ou ataques que surgem de modo súbito, paroxístico, repentino, que se fazem acompanhar de certas idéias - medo de morrer, de enlouquecer, medo de perder o controle da situação. Depois da primeira crise, a segunda pode vir como a situação anterior - por exemplo, uma crise que teve surgimento numa academia, pode vir a se tornar numa fobia à academias." 
 
       Bom, esta foi a descrição psiquiátrica, que em muito não difere da psicanalítica. Mas a psiquiatria (assim como as diversas correntes da psicologia) apenas trabalha com a descrição dos fenômenos. Até arriscam explicações para eles, embasadas apenas no que foi observado. Já a psicanálise (a "ciência" do inconsciente), postula que há razões por trás dos fenômenos observados a que não temos acesso num primeiro encontro. Essas razões tornariam possíveis as manifestações, e - o mais importante - a sua evolução e instalação no "eu" - sendo o termo "instalação" usado aqui para denotar uma relação parasitária entre a psicopatologia e o "eu"do sujeito, como se fosse algo alheio a este, que lhe é estranho (ver o artigo de Freud de 1919 sobre "O Estranho"). Com a revelação do inconsciente, as manifestações patológicas conscientes já não teriam mais razão de existir - estas perderiam suas forças.
       Pois bem, na psicanálise existe um termo há muito tempo proposto por Freud para designar o que hoje se chama de síndrome do pânico: a "neurose de angústia". Vamos ver então um pouco do que a psicanálise tem a dizer sobre a neurose de angústia...

        A angústia, antes de mais nada, é um afeto. Este pode ser ocasionado nas mais diversas situações. Primeiramente, um afeto poderia ser caracterizado como um processo de descarga nervosa, tendo expressão nas tremedeiras, no calafrio, no suor nas mãos (sudorese), batimentos cardíacos acelerados, etc. Em seguida, tal descarga seria acompanhada por um sentimento de prazer ou desprazer relativo à ela, que corresponderia ao colorido afetivo - aos sentimentos de medo, alegria, ou raiva, entre outros.

        Em Freud vemos desenhar-se a distinção entre dois tipos de angústia: uma realística e outra neurótica: A angústia realística, como o próprio nome nos informa, seria aquela relativa a objetos apropriados, ou seja, é ocasiona frente situações onde o afeto de angústia é esperado e compatível: por exemplo, os índios tinham razão de se angustiarem quando viram pela primeira vezas caravelas portuguesas atracarem na costa brasileira, pois não as conheciam, e não sabiam se elas poderiam trazer perigo a eles - como de fato trouxeram.

       Já a angústia neurótica poderia ser subdividida em duas. Uma seria ligada a objetos e situações determinadas, como nas fobias. Como exemplo disso, poderíamos citar um caso de uma garota que tinha fobia de aranhas (uma aracnofobia) e se sentia extremamente angustiada pela presença de uma aranha de borracha, mesmo sabendo dessa sua característica. Outra forma de angústia seria uma angústia "livre" ou "flutuante", que estaria pronta a se ligar a qualquer idéia que fosse compatível ou apropriada ao fim imediato: um medo de morrer vago, ou de enlouquecer, como já vimos na descrição psiquiátrica.

       Disso Freud conclui que, os sintomas - como as fobias - e as diversas inibições que os pacientes neuróticos impõem a si mesmos sob a forma de compulsões - por exemplo "devo trabalhar X horas todos os dias, invariavelmente", "não sairei de casa a não ser acompanhado - têm o intuito de vincular o afeto de angústia, ou seja "são formados para fugir a uma geração de ansiedade [ou angústia], de outro modo inevitável" (FREUD, 1916, p. 405).

        Sabemos ainda, que se o paciente for impedido de realizar seu ritual ou medida preventiva compulsória - como lavar as mãos, ou organizar seus utensílios - uma enorme irrupção de angústia acomete-o. Sendo assim, vemos que a angústia está intrinsecamente ligada ao problema da neurose, estando no cerne de várias manifestações sintomáticas. Mas de onde proviria a angústia? Deixaremos para investigar essa questão numa outra ocasião...

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