"Onde 'isso' estava, Eu devo advir" - Sigmund Freud

5 de outubro de 2012

Fundamentos teórico-clínicos da psicanálise I

Novo curso sobre psicanálise. O curso abordará a teoria psicanalítica desde suas bases, sendo muito interessante para os iniciantes. O ministrante é doutor em psicologia clínica pela USP, e será emitido certificado. Oportunidade grande em Aracaju, não percam essa chance!

3 de outubro de 2012

Profissão Repórter - Uso abusivo de medicamentos, 04/09/2012

       Recentemente (no dia 04/09/12) o programa profissão repórter da Globo fez uma reportagem somente sobre o uso abusivo de medicação "controlada". Uso aspas aqui, para mostrar o que a reportagem denunciou: medicamentos tarja preta, como ansiolíticos (clonazepam), sendo prescritos sem um cuidado devido, por profissionais das mais diversas áreas da medicina (até mesmo ginecologistas). A reportagem acompanhou uma série de pessoas que fazem ou fizeram uso da medicação controlada e mostrou como esta exerce influência sobre suas vidas. Para ver a reportagem clique aqui. Após o programa, um psiquiatra respondeu uma série de perguntas mais frequentes sobre o assunto, enviadas por telespectadores. Veja as perguntas e repostas clicando aqui.

2 de outubro de 2012

Rivotril: por que o medicamento é o segundo mais vendido do país?

Reportagem muito interessante da revista época sobre o uso de ansiolíticos. Vale a pena dar uma olhada: clique aqui

A SÍNDROME DO PÂNICO - PARTE II: EXPLICAÇÃO


Dando continuidade à discussão sobre a síndrome do pânico, somos levados a nos perguntar: de fato, de onde proviria o afeto de angústia? Não temos nenhuma pretensão de esgotar esse tema aqui, que seria capaz de fornecer material para toda uma vida de estudo, mas podemos tecer algumas palavras à guisa de introdução.

Uma característica peculiar da angústia salta a nossos olhos, a saber, a irrepresentabilidade. É comum que o paciente angustiado se queixe de que “chora sem mais nem menos”, ou que “está triste sem saber o porquê”. Na angústia, o afeto vem à consciência mas a representação permanece inconsciente, ou seja, a idéia ou motivos que levam a reação afetiva permanecem fora do alcance do sujeito. Este não tem conhecimento sobre as razões que o levam a se sentir daquela forma. Daí, como já vimos, provém a ligação com a idéia de morte: é a única forma de se simbolizar ou nomear um sentimento devido uma incapacidade de vinculá-lo a algo.

 Poderíamos então caracterizar a angústia como um precipitado, um sentimento momentâneo que representaria várias vivências afetivas do sujeito – pois como diria o poeta: “é feito de tudo o que eu tenho de aguentar”. Por essa razão a incapacidade de simbolização – não dá para apreender tudo num só instante. A análise teria um efeito terapêutico justamente porque faz o indivíduo se deparar com suas questões paulatinamente, falando sessão após sessão, se apropriando de seus conteúdos reprimidos e elaborando-os.


Portanto, vemos que a angústia pode sim ser tratada, e o tratamento consiste em resgatar o conteúdo ideoafetivo inconsciente. Mas isso não é coisa fácil, exige um certo esforço do paciente em vencer suas resistências, pois há um motivo pelo qual o recalque opera. O conteúdo que foi reprimido é extremamente doloroso para o paciente, e incita fortes emoções desprazerosas. Contudo, não há muita escolha sobrando para este: o desprazer vem sob a forma de angústia ou decorrente dos pensamentos e afetos ligados a estes que foram recalcados. De uma forma ou de outra irrompe o desprazer - não há escapatória. Nisso poderíamos até vislumbrar uma noção funcional de angústia, equiparando-a com alguns processos somáticos que visam expelir algo indesejado para fora do organismo, como ocorre por exemplo com vômitos ou espirros. 

Tornado a coisa simples, poderia-se apenas dizer que um saber sobre si mesmo – sobre os traumas, complexos, conflitos e emoções – seria a maneira pela qual se tornaria possível evitar a sensação de angústia. Ou melhor, possibilitaria uma troca da angústia pelo desejo do paciente. É por isso que os pacientes devem falar, falar e falar muito, até obterem um saber sobre si próprios que os tornem aptos a lidar melhor com suas questões. Mas no fim, uma coisa é certa: há outro destino para a angústia, e isso pode ser conseguido por meio da análise.


REFERÊNCIAS/LEITURA COMPLEMENTAR

Como já mencionei antes, não tive a menor pretensão de abordar o tema em toda a sua profundidade. Quem quiser se aprofundar nessas questões indico a Conferência XXV das “Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise” (1916-1917) de Freud sobre “A Ansiedade”, o artigo “Inibições, Sintomas e Angústia” (1926) também de Freud e o Seminário 10 de Jacques Lacan sobre “A Angústia”. Recomendo ainda “O Conceito de Angústia” de Kierkegaard.

SOBRE O AB-USO DA MEDICAÇÃO CONTROLADA - ANSIOLÍTICOS


Na grande maioria dos casos de neurose, para fugir a um acometimento de acessos de angústia, há uma tendência ao refúgio do sujeito atrás de inibições e medicamentos – os populares “tarja preta”. Mas aí já não poderíamos falar de sujeitos plenos, desejantes.

Atualmente a procura e uso abusivo de fármacos aumenta cada vez mais, movimentando a economia de uma indústria farmacêutica bilionária. Psicanalistas não são contra o uso de medicamentos e sim do abuso destes. O medicamento deveria ser apenas um instrumento para auxiliar o sujeito no enfrentamento de suas questões, e não no encobrimento destas. A política de abuso medicamentoso sem análise bem poderia ser descrita como “jogar a sujeira para debaixo do tapete”, ou “tapar o sol com a peneira”, e ainda “política do avestruz”. 

Sabemos que nosso contexto sócio-econômico contribui em parte – somado às resistências internas – no estabelecimento desse quadro, pois exige uma maior produtividade dos sujeitos, fazendo com que estes busquem saídas rápidas para seus problemas. Para estes seria mais sedutora e confiável a medicação controlada do que a análise pessoal, longa e custosa. Na verdade, em muitos casos não há sequer conhecimento da existência de análise pessoal. 

Os sujeitos que fazem uso abusivo de psicotrópicos invariavelmente se tornam alienados, não-implicados nos sintomas que produzem. Tornam-se verdadeiros “homens-robô”, destituídos de capacidades criativas: ouvi de uma pessoa certa vez que, após o início do tratamento medicamentoso, simplesmente parou de sonhar à noite. Tais sujeitos seriam então guiados por um Outro, não pelo próprio desejo. A análise seria a única forma possível de se criar uma barreira contra a satisfação neurótica masoquista, sem um decréscimo das faculdades cognitivas e criativas, por meio de uma aquisição  - ou melhor, re-aquisição – de um saber sobre si mesmo. Mas não se consegue isto sem muito esforço – exige tempo e labor.

1 de outubro de 2012

A SÍNDROME DO PÂNICO: AKA “NEUROSE DE ANGÚSTIA” – PARTE I: DESCRIÇÃO

       A "síndrome do pânico" é uma patologia que cada vez mais leva à procura de atendimento clínico. Apesar de sempre haver existido – embora não com essa nomenclatura – há um crescente número de pessoas apresentando sinais do quadro, o que nos leva a caracterizá-la como uma das "patologias do contemporâneo". Vamos dar uma olhada no que a psiquiatria tem a dizer sobre o quadro (ela que sempre foi boa em descrições):
 
       "Transtorno de Ansiedade (Paroxística Episódica) = Síndrome do Pânico: É um transtorno de ansiedade intensa que se manifesta por episódios chamados crises ou ataques que surgem de modo súbito, paroxístico, repentino, que se fazem acompanhar de certas idéias - medo de morrer, de enlouquecer, medo de perder o controle da situação. Depois da primeira crise, a segunda pode vir como a situação anterior - por exemplo, uma crise que teve surgimento numa academia, pode vir a se tornar numa fobia à academias." 
 
       Bom, esta foi a descrição psiquiátrica, que em muito não difere da psicanalítica. Mas a psiquiatria (assim como as diversas correntes da psicologia) apenas trabalha com a descrição dos fenômenos. Até arriscam explicações para eles, embasadas apenas no que foi observado. Já a psicanálise (a "ciência" do inconsciente), postula que há razões por trás dos fenômenos observados a que não temos acesso num primeiro encontro. Essas razões tornariam possíveis as manifestações, e - o mais importante - a sua evolução e instalação no "eu" - sendo o termo "instalação" usado aqui para denotar uma relação parasitária entre a psicopatologia e o "eu"do sujeito, como se fosse algo alheio a este, que lhe é estranho (ver o artigo de Freud de 1919 sobre "O Estranho"). Com a revelação do inconsciente, as manifestações patológicas conscientes já não teriam mais razão de existir - estas perderiam suas forças.
       Pois bem, na psicanálise existe um termo há muito tempo proposto por Freud para designar o que hoje se chama de síndrome do pânico: a "neurose de angústia". Vamos ver então um pouco do que a psicanálise tem a dizer sobre a neurose de angústia...

        A angústia, antes de mais nada, é um afeto. Este pode ser ocasionado nas mais diversas situações. Primeiramente, um afeto poderia ser caracterizado como um processo de descarga nervosa, tendo expressão nas tremedeiras, no calafrio, no suor nas mãos (sudorese), batimentos cardíacos acelerados, etc. Em seguida, tal descarga seria acompanhada por um sentimento de prazer ou desprazer relativo à ela, que corresponderia ao colorido afetivo - aos sentimentos de medo, alegria, ou raiva, entre outros.

        Em Freud vemos desenhar-se a distinção entre dois tipos de angústia: uma realística e outra neurótica: A angústia realística, como o próprio nome nos informa, seria aquela relativa a objetos apropriados, ou seja, é ocasiona frente situações onde o afeto de angústia é esperado e compatível: por exemplo, os índios tinham razão de se angustiarem quando viram pela primeira vezas caravelas portuguesas atracarem na costa brasileira, pois não as conheciam, e não sabiam se elas poderiam trazer perigo a eles - como de fato trouxeram.

       Já a angústia neurótica poderia ser subdividida em duas. Uma seria ligada a objetos e situações determinadas, como nas fobias. Como exemplo disso, poderíamos citar um caso de uma garota que tinha fobia de aranhas (uma aracnofobia) e se sentia extremamente angustiada pela presença de uma aranha de borracha, mesmo sabendo dessa sua característica. Outra forma de angústia seria uma angústia "livre" ou "flutuante", que estaria pronta a se ligar a qualquer idéia que fosse compatível ou apropriada ao fim imediato: um medo de morrer vago, ou de enlouquecer, como já vimos na descrição psiquiátrica.

       Disso Freud conclui que, os sintomas - como as fobias - e as diversas inibições que os pacientes neuróticos impõem a si mesmos sob a forma de compulsões - por exemplo "devo trabalhar X horas todos os dias, invariavelmente", "não sairei de casa a não ser acompanhado - têm o intuito de vincular o afeto de angústia, ou seja "são formados para fugir a uma geração de ansiedade [ou angústia], de outro modo inevitável" (FREUD, 1916, p. 405).

        Sabemos ainda, que se o paciente for impedido de realizar seu ritual ou medida preventiva compulsória - como lavar as mãos, ou organizar seus utensílios - uma enorme irrupção de angústia acomete-o. Sendo assim, vemos que a angústia está intrinsecamente ligada ao problema da neurose, estando no cerne de várias manifestações sintomáticas. Mas de onde proviria a angústia? Deixaremos para investigar essa questão numa outra ocasião...