Dando
continuidade à discussão sobre a síndrome do pânico, somos levados a nos
perguntar: de fato, de onde proviria o afeto de angústia? Não temos nenhuma
pretensão de esgotar esse tema aqui, que seria capaz de fornecer material para toda
uma vida de estudo, mas podemos tecer algumas palavras à guisa de introdução.
Uma
característica peculiar da angústia salta a nossos olhos, a saber, a
irrepresentabilidade. É comum que o paciente angustiado se queixe de que “chora
sem mais nem menos”, ou que “está triste sem saber o porquê”. Na angústia, o
afeto vem à consciência mas a representação permanece inconsciente, ou seja, a
idéia ou motivos que levam a reação afetiva permanecem fora do alcance do
sujeito. Este não tem conhecimento sobre as razões que o levam a se sentir daquela
forma. Daí, como já vimos, provém a ligação com a idéia de morte: é a única
forma de se simbolizar ou nomear um sentimento devido uma incapacidade de
vinculá-lo a algo.
Poderíamos então caracterizar a angústia como
um precipitado, um sentimento momentâneo que representaria várias vivências
afetivas do sujeito – pois como diria o poeta: “é feito de tudo o que eu tenho
de aguentar”. Por essa razão a incapacidade de simbolização – não dá para apreender
tudo num só instante. A análise teria um efeito terapêutico justamente porque
faz o indivíduo se deparar com suas questões paulatinamente, falando sessão
após sessão, se apropriando de seus conteúdos reprimidos e elaborando-os.
Portanto,
vemos que a angústia pode sim ser tratada, e o tratamento consiste em resgatar
o conteúdo ideoafetivo inconsciente. Mas isso não é coisa fácil, exige um certo
esforço do paciente em vencer suas resistências, pois há um motivo pelo qual o
recalque opera. O conteúdo que foi reprimido é extremamente doloroso para o
paciente, e incita fortes emoções desprazerosas. Contudo, não há muita escolha sobrando
para este: o desprazer vem sob a forma de angústia ou decorrente dos
pensamentos e afetos ligados a estes que foram recalcados. De uma forma ou de
outra irrompe o desprazer - não há escapatória. Nisso poderíamos até vislumbrar
uma noção funcional de angústia, equiparando-a com alguns processos somáticos que
visam expelir algo indesejado para fora do organismo, como ocorre por exemplo
com vômitos ou espirros.
Tornado a
coisa simples, poderia-se apenas dizer que um saber sobre si mesmo – sobre os
traumas, complexos, conflitos e emoções – seria a maneira pela qual se tornaria
possível evitar a sensação de angústia. Ou melhor, possibilitaria uma troca da
angústia pelo desejo do paciente. É por isso que os pacientes devem falar,
falar e falar muito, até obterem um saber sobre si próprios que os tornem aptos
a lidar melhor com suas questões. Mas no fim, uma coisa é certa: há outro
destino para a angústia, e isso pode ser conseguido por meio da análise.
REFERÊNCIAS/LEITURA COMPLEMENTAR
Como já
mencionei antes, não tive a menor pretensão de abordar o tema em toda a sua
profundidade. Quem quiser se aprofundar nessas questões indico a Conferência
XXV das “Conferências Introdutórias Sobre
Psicanálise” (1916-1917) de Freud sobre “A Ansiedade”, o artigo “Inibições, Sintomas e Angústia” (1926)
também de Freud e o Seminário 10 de Jacques Lacan sobre “A Angústia”. Recomendo ainda “O
Conceito de Angústia” de Kierkegaard.
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