"Onde 'isso' estava, Eu devo advir" - Sigmund Freud

2 de outubro de 2012

A SÍNDROME DO PÂNICO - PARTE II: EXPLICAÇÃO


Dando continuidade à discussão sobre a síndrome do pânico, somos levados a nos perguntar: de fato, de onde proviria o afeto de angústia? Não temos nenhuma pretensão de esgotar esse tema aqui, que seria capaz de fornecer material para toda uma vida de estudo, mas podemos tecer algumas palavras à guisa de introdução.

Uma característica peculiar da angústia salta a nossos olhos, a saber, a irrepresentabilidade. É comum que o paciente angustiado se queixe de que “chora sem mais nem menos”, ou que “está triste sem saber o porquê”. Na angústia, o afeto vem à consciência mas a representação permanece inconsciente, ou seja, a idéia ou motivos que levam a reação afetiva permanecem fora do alcance do sujeito. Este não tem conhecimento sobre as razões que o levam a se sentir daquela forma. Daí, como já vimos, provém a ligação com a idéia de morte: é a única forma de se simbolizar ou nomear um sentimento devido uma incapacidade de vinculá-lo a algo.

 Poderíamos então caracterizar a angústia como um precipitado, um sentimento momentâneo que representaria várias vivências afetivas do sujeito – pois como diria o poeta: “é feito de tudo o que eu tenho de aguentar”. Por essa razão a incapacidade de simbolização – não dá para apreender tudo num só instante. A análise teria um efeito terapêutico justamente porque faz o indivíduo se deparar com suas questões paulatinamente, falando sessão após sessão, se apropriando de seus conteúdos reprimidos e elaborando-os.


Portanto, vemos que a angústia pode sim ser tratada, e o tratamento consiste em resgatar o conteúdo ideoafetivo inconsciente. Mas isso não é coisa fácil, exige um certo esforço do paciente em vencer suas resistências, pois há um motivo pelo qual o recalque opera. O conteúdo que foi reprimido é extremamente doloroso para o paciente, e incita fortes emoções desprazerosas. Contudo, não há muita escolha sobrando para este: o desprazer vem sob a forma de angústia ou decorrente dos pensamentos e afetos ligados a estes que foram recalcados. De uma forma ou de outra irrompe o desprazer - não há escapatória. Nisso poderíamos até vislumbrar uma noção funcional de angústia, equiparando-a com alguns processos somáticos que visam expelir algo indesejado para fora do organismo, como ocorre por exemplo com vômitos ou espirros. 

Tornado a coisa simples, poderia-se apenas dizer que um saber sobre si mesmo – sobre os traumas, complexos, conflitos e emoções – seria a maneira pela qual se tornaria possível evitar a sensação de angústia. Ou melhor, possibilitaria uma troca da angústia pelo desejo do paciente. É por isso que os pacientes devem falar, falar e falar muito, até obterem um saber sobre si próprios que os tornem aptos a lidar melhor com suas questões. Mas no fim, uma coisa é certa: há outro destino para a angústia, e isso pode ser conseguido por meio da análise.


REFERÊNCIAS/LEITURA COMPLEMENTAR

Como já mencionei antes, não tive a menor pretensão de abordar o tema em toda a sua profundidade. Quem quiser se aprofundar nessas questões indico a Conferência XXV das “Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise” (1916-1917) de Freud sobre “A Ansiedade”, o artigo “Inibições, Sintomas e Angústia” (1926) também de Freud e o Seminário 10 de Jacques Lacan sobre “A Angústia”. Recomendo ainda “O Conceito de Angústia” de Kierkegaard.

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